sexta-feira, 29 de maio de 2009

Recomendações OMS

O "Guia Prático para a Assistência ao Parto Normal" foi publicado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 1996 (publicação em língua portuguesa em 2000). Com base em 218 estudos sobre as intervenções no parto, e adoptando a medicina baseada em evidências na sua análise, classificaram as práticas obstétricas em quatro categorias:

Categoria A: Práticas demonstradamente úteis e que devem ser estimuladas;
Categoria B: Práticas claramente prejudiciais ou ineficazes e que devem ser eliminadas;
Categoria C: Práticas em relação às quais não existem evidências suficientes para apoiar uma recomendação clara e que devem ser utilizadas com cautela, até que mais pesquisas esclareçam a questão;
Categoria D: Práticas frequentemente utilizadas de modo inadequado.

Conclui que as práticas devem respeitar o processo fisiológico e a dinâmica de cada nascimento, devendo-se evitar o excesso de intervenções médicas, utilizando criteriosamente os recursos tecnológicos disponíveis.

À laia de resumo, muito resumido...

São desaconselhadas, entre outras:
- uso rotineiro de ecografias durante a gravidez
- uso de enema, exame rectal e tricotomia
- posição deitada durante o trabalho de parto e parto
- uso rotineiro e abusivo de ocitocina
- uso rotineiro de analgesia farmacológica
- uso rotineiro de episiotomia
- esforços de puxo prolongados e dirigidos durante o período expulsivo

O profissional de saúde deve:
- incentivar os pais a elaborar um plano de parto
- respeitar a escolha da mãe sobre o local de parto
- oferecer todas as explicações necessárias para que os pais possam tomar decisões informadas
- dar à mulher liberdade de posição e movimento durante o trabalho de parto
- facultar o contacto precoce, pele a pele, entre a mãe e o bebé e o início da amamentação na primeira hora do pós-parto

Epidural

"A epidural cria uma separação entre a mulher e o seu corpo no momento em que ela mais tem necessidade de saber, e sobretudo sentir, o que está acontecendo. A mãe fica imobilizada, pregada numa cama durante todo o trabalho, sem a possibilidade de fiar-se em suas sensações - que praticamente deixam de existir. Ela só obedece às ordens do médico e sujeita-se às suas intervenções. A parte superior do corpo assiste, impotente e submissa, à intervenção médica efectuada na parte inferior. Incapaz de participar, a mulher fica condenada a suportar; quanto ao bebé, tem de enfrentar sozinho as contracções. A mãe é forçada a abandoná-lo em plena tormenta, não
seguem juntos o mesmo percurso."

Quando o corpo consente, Marie Bertherat

"Seja qual for a forma, por enquanto misteriosa, da minha dor, ela será minha e já é minha. A dor do parto não será uma dor imposta. Não tem nada a ver com a dor do corpo machucado ou ferido. Esta sim, enfraquece, avilta,destrói. Esta merece ser anestesiada. Não a dor do nascimento. Não quero. Ouvi muitas mulheres falarem das dores do parto como um sofrimento imposto. Para elas, a sensação dolorosa das contracções é intolerável, é uma maldição herdada de mãe para filha, uma passagem compulsória e inaceitável na era em que a farmacopéia permite sua isenção. Calar essa dor parece-lhes vital. Eu as entendo. Entendo sobretudo porque elas estão se preparando para dar à luz em lugares frios e impessoais, nos quais todo o mundo só fala de dor a suportar ou de anestésicos milagrosos que podem dar alívio.
Mas não será um engodo? Por trás do discurso anti-dor das mulheres não haverá outra coisa? O medo do desconhecido, o medo da emoção, o medo de ser mãe, o medo de ser responsável por um outro ser. Será que a anestesia consegue aliviar esses medos?(...)
Deixar a própria dor manifestar-se pode ser indispensável, porque isso ajuda a mãe a conhecer-se melhor, inclusivé a conhecer seu próprio nascimento. Nascer outra vez ao dar a vida."

Quando o corpo consente, Marie Bertherat

"O importante é sentir tudo. Se se aprender a fazer isso, através da respiração e relaxamento, é como uma contemplação com o nosso corpo. É como se o útero fosse o condutor e a mulher o maestro da orquestra."
Entrevista a Sheila Kitzinger

"Com o uso da analgesia peridural, há uma tendência para que o primeiro estágio do trabalho de parto seja um pouco mais longo, e com o uso mais frequente de ocitocina. Em vários relatos e estudos, constatou-se um aumento do número de partos vaginais operatórios, especialmente se o efeito analgésico foi mantido durante o segundo estágio do trabalho de parto, suprimindo assim o reflexo do puxo. Num estudo americano recente, o número de cesarianas aumentou quando se utilizou analgesia peridural, especialmente quando iniciada antes de 5cm de dilatação (Thorp et al 1993)."
in Guia Prático para a Assistência ao Parto Normal, OMS, 2000

"Uma tarefa importante do parteiro é ajudar as mulheres a suportar a dor durante o trabalho de parto. Isto pode ser obtido com o alívio farmacológico; porém mais fundamental e mais importante é a abordagem não farmacológica, iniciado durante o pré-natal com o fornecimento de informações tranquilizadoras à gestante e ao seu companheiro, e também à sua família, se necessário. O apoio empático de prestadores de serviço e acompanhantes, antes e durante o trabalho de parto, pode diminuir a necessidade de analgesia farmacológica e assim melhorar a experiência de dar à luz."
in Guia Prático para a Assistência ao Parto Normal, OMS, 2000

terça-feira, 26 de maio de 2009

O poder transformador do parto

"Birth is not only about making babies. Birth is about making mothers."

Barbara Katz-Rothman, In Labor:Woman and Power in the birthplace

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Caminhar para o nascimento...

O objectivo dos profissionais de saúde não pode ser só a integridade física da mãe e do bebé. Cada mulher precisa apreciar o triunfo pessoal da maternidade senão o seu papel não foi cumprido. Auxiliar a mãe a caminhar, a chegar ao auge do seu esforço físico e interior que culmina no nascimento do seu bebé. Mas sendo este o SEU momento fruto do SEU esforço. Eles (mãebebé) são os protagonistas desta história de amor. E nós os meros espectadores VIP de lágrima no olho...
f.

terça-feira, 19 de maio de 2009

Educador perinatal - os nossos princípios

. Dar à mulher ferramentas para que esta confie que ela própria já tem o conhecimento sobre como dar à luz. Acreditamos que o corpo da mulher está preparado para o nascimento.
. Ouvir a mulher, os seus medos, as suas dúvidas, as suas emoções, as suas crenças. Acreditamos que o parto é um momento de transformação para a mulher e de crescimento pessoal. As emoções têm um efeito grande no resultado do parto.
. Encorajar a mulher a ouvir o seu próprio corpo e facilitar o processo de parto. Não se trata de impôr um método de dar à luz, pois acreditamos que não existe uma forma correcta de parir. Cada mulher e bébé e parto são únicos.
. Ajudar na escolha de um profissional de saúde e na escolha de um local de parto que transmita segurança à mulher. O melhor local de parto é aquele em que a mulher se sente mais segura: para algumas mulheres, esse local é o hospital, para outras será o domicílio, outras ainda terão preferência por casas de parto. Em qualquer destes locais deveria ser assegurada a privacidade e encorajada a mobilidade.
. Apoio à amamentação. Acreditamos que o leite materno é o melhor leite para o bébé.
. Informar sobre os jargões médicos. Acreditamos que os pais devem ter acesso a todas as informações médicas por forma a tomarem decisões informadas
. Embora as cesarianas possam salvar vidas, a taxa de cesarianas é, de acordo com a OMS, demasiado elevada. Acreditamos que os partos vaginais pós-cesariana (VBAC) são muitas vezes mais seguros do que novas cesareanas.

Porquê Nascimento Biodinâmico?

Porquê a necessidade de inventar outro termo? Biodinâmico? Não seria mais simples dizer nascimento suave, ou natural, ou normal?

O problema com o termo parto normal prende-se com o facto de esta ser uma definição de parto que é cultural e socialmente específica. Será que parto normal é um parto vaginal, por oposição a parto por cesariana? Ou parto normal significa um parto vaginal não instrumentalizado, sem uso de fórceps ou ventosas? Mas, e se a mulher tiver um parto não instrumentalizado, sendo contudo o seu parto induzido por meio de ocitocina sintética, vendo-se esta privada da possibilidade de produzir as suas próprias hormonas; ou se o profissional de saúde lhe romper as águas ou fizer um descolamento de membranas; serão estes ainda partos normais? Por isso ultimamente se tem falado tanto na necessidade de estabelecer consensos sobre o que é um parto normal.

Quando se fala de parto natural, pressupõe-se que o parto tenha decorrido sem qualquer intervenção médica e se penso num parto suave, vem-me à mente um parto pouco custoso, aprazível.

Ora, como diz Michel Odent, quando falamos de um parto suave, natural ou normal, estamos a falar da qualidade do resultado. Como é que eu posso afirmar que estou a fazer uma preparação para um parto natural? Eu só sei se o parto foi natural ou não depois de o bébé nascer. Cada mulher e cada bébé são únicos e cada parto tem as suas peculiaridades.

A única coisa que eu posso afirmar com certeza é que a atitude perante o nascimento é uma atitude biodinâmica, ou seja, de compreensão e respeito pelos processos fisiológicos da mãe e do bébé. Certamente, se houver esta compreensão será maior a probabilidade de conseguir, enquanto resultado, um parto natural e suave.

Quando falamos de nascimento biodinâmico, queremos também ressaltar a importância desta consciência e compreensão estar presente não apenas no momento do parto, mas também em todo o pré-natal e no pós-parto. Idealmente, esta atitude levar-nos-ia inclusivé a preparar o nascimento bem antes da concepção.
m.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

O porquê deste curso??

Comecei a pensar neste curso ainda estava grávida. Na altura pensei como participante e hoje também :) Faz-me pensar a forma como os nossos bebés são recebidos neste mundo. Comecei a observar como a atenção à saúde da grávida é desintegrada e consequentemente desintegradora. A sua rotina é serem acompanhadas por vários profissionais que não se relacionam e actuam em serviços desvinculados. Os cursos de preparação para o parto são, na maioria das vezes, realizados de forma muito técnica, fria e distante, vizualizando-se apenas mais um corpo grávido que ao fim de nove meses irá expulsar um corpo recém nascido. O facto de ninguém falar da vida emocional desses dois corpos permitiu-me olhar de outra dimensão, para mulheres e recém nascidos para o binómio mãebebé (que nem em palavras se dissocia).
Foi nesta base que criamos este curso para que as mulheres e os seus bebés recebam uma atenção integral como um ser bio-psico-social, principalmente durante a gravidez. Assim existe sim um espaço educacional mas cohabita com o espaço emocional em todas as sessões.

É raro encontrar profissionais de saúde que acreditem que a experiência do nascimento seja importante para o bebé e interfira no desenvolvimento emocional do indivíduo. Mas Freud já acreditava na importância do trauma do nascimento e formulou a ideia valiosa de que a sintomatologia da ansiedade poderia estar relacionada ao trauma do nascimento.

Grantly Dick Read, em 1942, acreditava na importância de proporcionar confiança à mãe com o objectivo de impedir ou superar o medo da mãe, considerado um elemento seriamente perturbador para a função materna na hora do parto.

Para Winnicott, é necessário reconhecer e avaliar o tipo de meio ambiente ao qual pertence a experiência do nascimento, bem como a capacidade que a mãe tem de se devotar ao bebé recém-nascido, a capacidade dos pais de dividir a responsabilidade, à medida que o bebé se torna uma criança e a capacidade da situação social de permitir que a devoção materna e a cooperação paterna desempenhem seus papeis.
O nascimento tem muitos níveis de experiências, alguns dos quais podem deixar marcas profundas e permanentes na saúde física e psíquica do novo ser. Portanto é necessário criar condições propícias, tanto emocionais como fisiológicas para a mãe durante a gravidez e parto e dar ao recém nascido a oportunidade de um nascimento harmonioso, respeitoso e de amor!
f.

sábado, 9 de maio de 2009

Encontro sobre maternidade e gravidez - Porto


Dia 16 de Maio pelas 15h estão convidad@s a aparecer num círculo de conversa sobre maternidade e gravidez. A entrada é livre e aberta a mães, grávidas, interessados em geral, bebés, crianças, famílias....
Podem trazer algo para lanchar e partilhar e preparar-se para trocar muita informação ou simplesmente para disfrutar do espaço verde do Parque das Varas junto ao Mosteiro de Leça do Balio.
Estarão presentes para moderar a conversa e responder a questões enfermeiras obstetras, Doulas, Educadoras Perinatais, Antropólogas e Mães com experiências diferentes para contar.

Mais informações para:
f_costaleite@hotmail.com
limarta@gmail.com

Abraços Humanizados

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Programa do Curso de Preparação para um nascimento biodinâmico

Objectivo Geral do curso teórico-prático: Auxiliar o casal no rito de passagem da gestação-parto-puerpério através de técnicas activas de relaxamento, meditação, Yoga, respiração, pintura e desenho, escrita e dramatização, dança e partilha no grupo

Objectivos específicos:
- Informar através de fontes actuais e modelos que apelam ao bem-estar da mãebebé
- Incentivar a procura interior para escolhas conscientes e plenas
- Apoiar em qualquer circunstância a nova família independentemente da sua opção de parto

I Gestação
- Anatomia e fisiologia da gestação
- Alterações físicas e psicológicas na gravidez
- Patologias da gestação - mitos e realidades
- Nutrição na gravidez
- Tipos de parto e Plano de parto
- Escolha dos profissionais e locais de parto

II Parto
- Antropologia do nascimento
- Fisiologia do parto e complicações
- Fases do trabalho de parto
- Humanização vs Rotinas hospitalares – medicina baseada em evidências – escolhas informadas
- Síndrome medo-tensão-dor vs alegria-descontração-prazer
- Epidural vs Técnicas alternativas de alivio da dor
- Posições que auxiliam o trabalho de parto e parto - encontrar o conforto no trabalho de parto
- Como identificar sinais de início de trabalho de parto
- Papel do pai e acompanhantes no parto
- Parto e sexualidade
- Cesarianas - indicações, VBAC's

III Pós-parto
- Transtornos pós-parto da mãe e recém-nascido
- Pós-operatório - Cesariana, episiotomia
- Amamentação e 1ª hora de vida
- A importância de uma rede de apoio

Nota: Estes são os temas que previmos debater sendo que se existirem outras questões que possam interessar ao grupo poderão ser incluídas ou substituídas.... Porque estes cursos são sempre uma surpresa :)

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Curso de Preparação Para um Nascimento Biodinâmico

Curso de preparação para o nascimento Biodinâmico
- uma alternativa à industrialização do parto

Uma atitude biodinâmica baseia-se numa boa compreensão dos processos fisiológicos da mãe e do bebé - Michel Odent

Este curso consiste numa parte mais teórica em que se desmistificará certas práticas hospitalares rotineiras com base em evidências científicas recentes e se abordará vários temas relacionados com a gravidez, parto e pós-parto e a protecção do estabelecimento de vínculo entre a mãe e o bebé.
A parte prática incluirá a visualização de filmes sobre partos humanizados, exercícios de consciência corporal que permitem à mulher descobrir o poder e sabedoria do seu próprio corpo para parir, partilha de experiências e conversas sobre os medos. Vamos também dançar, pintar as barrigas, fazer massagens, rir, respirar, criar laços e uma rede de apoio.


Os temas discutidos ao longo das sessões seguintes ao curso teórico estarão sempre ligados à gravidez, parto e pós-parto sendo propostos e definidos por decisão conjunta entre os diversos membros dos grupos. Esta decisão relativamente ao tópico pré-estabelecido de discussão é flexível, adaptando-se às necessidades pontuais expressas por uma ou mais mulheres em cada encontro, caso estas ocorram e sejam identificadas.

Podem ser pontualmente convidados especialistas ou interessados em áreas específicas, caso o grupo considere que a sua vinda constitui uma mais-valia para o encontro.

Os grupos estão sempre abertos à entrada de novos membros até um limite de 20 participantes.

No caso de terem outros bebés ou crianças a seu cargo estas também poderão participar desde que sinta que não vão perturbar a sua atenção ou a do grupo.


Workshops/Iniciativas paralelas ao curso

Massagem para bebés
Utilização do pano porta-bebés
Como fazer produtos de cosmética natural para o seu bebé
Bebés Ecológicos
Nutrição Infantil

Doula - Acompanhamento durante a gravidez, trabalho de parto e parto
- Possibilidade de parto domiciliar com parteira
- Disponibilidade 24h/dia durante a gravidez